De uns tempos pra cá, a biblioteca da casa passou a ficar trancada, pois ele não queria que a esposa entrasse lá.
Várias vezes ela insistiu para que ele a deixasse espanar os livros, aspirar o ambiente, e abrir a janela para entrar o ar fresco. A resposta era sempre a mesma:
— NÃO! Na minha biblioteca ninguém entra!
Certo dia, ela contou a proibição à vizinha, que opinou:
— Aí tem coisa, amiga! Com certeza, ele está escondendo algo de você.
No dia seguinte, assim que o marido saiu para o trabalho, ela pulou da cama determinada a arrombar a fortaleza. Mas, reconsiderou diante da porta, admitindo não ter força necessária para a ação.
— O que será que tem de tão importante aí dentro?
Repetindo o gesto diário, ela segurou a maçaneta e, desta vez, ao girá-la, a porta se abriu. Com o coração acelerado, foi investigar as gavetas da escrivaninha.
Debaixo de alguns papéis, encontrou uma pasta transparente e, dentro dela, um envelope cor de rosa endereçado ao “meu Omarzinho”. Ela estremeceu.
— Quer dizer que o motivo praquele cachorro não me deixar entrar aqui é esta cartinha!? Não vou deixar barato. Eu sou capaz de perdoar tudo, menos traição.
Com as mãos trêmulas ela abriu o envelope, segurou a carta e leu cada palavra, caprichosamente manuscrita.
No fim da tarde, quando o marido chegou, ela estava chorando dentro da biblioteca.
— Por que você fez isso comigo? Por quê? Eu só quero entender o porquê!
Ele gaguejou:
— Co-como vo-você entrou a-aqui?
— Você se esqueceu de trancar a porta. E eu descobri tudo. Você é asqueroso! Você é um crápula! Um… Um…
Ele levantou o indicador.
— Eu não admito que você fale assim comigo!
— Falo do jeito que eu quiser! Você não devia ter mentido pra mim. Quando nos conhecemos você me disse que ela estava morta.
Ele deu as costas para sair da biblioteca. Ela gritou:
— Amanhã, pela manhã, iremos buscá-la para morar conosco! Eu não quero mais a minha sogra morando num asilo! Entendeu?









