A ARRUMADEIRA

O quarentão estava cantando no banho quando a campainha tocou. Rapidamente fechou o chuveiro e enrolou a toalha na cintura. Imaginou que fosse o vizinho chato exigindo a devolução do cortador de grama, ou o açougueiro aflito para receber os quatro meses de fiado. Decidido a resolver as pendências, caminhou até a porta e perguntou:
— Quem é?
E ouviu:
— O senhor está precisando de uma arrumadeira?
Ele entreabriu a porta para espiar. Viu a mulher franzina e enrugada. Devia ter, pelo menos, setenta invernos.
— Posso entrar?
— Espere um pouco. Acabei de sair do banho. Vou me vestir. Já volto.
Ele não fechou a porta. Ela não entendeu o que ele havia dito e, por isso, entrou a tempo de vê-lo caminhar pelo corredor e entrar no quarto. Ela também viu a toalha cair. Ele não percebeu. Minutos depois retornou devidamente vestido. Ela suspirava com a imagem da nudez na cabeça.
— Eu falei para a senhora esperar. Não era para entrar.
Ela adocicou a voz.
— O senhor precisa de alguém que limpe a sua casa?
— Quem não precisa?
— De alguém que lave e passe as suas roupas?
— Se for possível…
— Também que prepare as suas refeições?
— Seria ótimo.
— O senhor gosta de comida mineira?
— Muito. Minha avó era belo-horizontina.
— Hum… O que o senhor prefere: uma arrumadeira ou uma esposa? Ou as duas numa só?
Temeroso pela insinuação, ele tratou de encerrar o diálogo.
— Eu agradeço pela oferta da senhora, mas, por enquanto, não contratarei ninguém.
A velha murchou e marchou até a porta. Ele a acompanhou. Do lado de fora estava uma jovem escultural, de olhos cor de mel, cabelos longos. Vinte e poucos anos.
— E então, vovó? Conseguiu?
— Ele não quer. Vamos embora.
O quarentão ficou fascinado pela beleza da jovem. E antes que elas fossem embora, ele reconsiderou:
— Esperem! Eu estava brincando. Eu quero sim uma arrumadeira para ser a minha mulher. Quando pode começar?
A moça abraçou a avó e disse felicíssima:
— Imediatamente!
— Então, venha comigo – Disse puxando a moça pela mão.
Delicadamente, ela se desvencilhou dele e disse:
— Moço, a arrumadeira é a minha avó.