“Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê que o caminho é um só.” Os versos de Renato Russo, numa das canções mais conhecidas da banda Legião Urbana, abrem este texto numa celebração aos últimos dias de inscrição para o Enem 2024: o prazo vai até a próxima sexta-feira, 07/06 – fique ligado!
A alusão ao ato de celebrar se deve ao fato de que inscrever-se para a prova é um passo evidentemente necessário, o que justifica a importância desse lembrete, e à ideia de que o caminho é, realmente, um só quando se trata do discurso dissertativo-argumentativo.
Sabemos que o desafio da prova de redação do Enem é a análise crítica de um problema social: as propostas sempre abordam questões que, de uma forma ou de outra, afetam determinados grupos ou a coletividade, impondo a necessidade do enfrentamento de tal situação problemática.
O caminho argumentativo, portanto, está traçado: o aluno tem de analisar essa pauta que inspira ações interventivas, investigando causas, consequências, impactos diversos ou a importância do que está sendo negligenciado ou mesmo negado às vítimas desse contexto hostil.
É nesse sentido que reitero: não existe outro percurso a não ser o da abordagem crítica que parte da frase temática e dos textos motivadores da proposta de redação. De posse dessas informações, o aluno tem de desenvolver um texto que dialogue com o conteúdo proposto, acrescentando sua visão autoral sobre a temática, visão que precisa estar apoiada num repertório sociocultural de comprovações.
A partir desse ponto, começam a tomar corpo inúmeras possibilidades. Para sustentar a tese defendida (a qual tem de ser anunciada no final do parágrafo introdutório), o aluno deve recorrer a referências de variadas áreas do saber, as quais serão previamente selecionadas conforme a natureza do tema.
Por exemplo, se a pauta for ambiental, entrarão em cena, naturalmente, conhecimentos da área de ciências da natureza e suas tecnologias. Mas, como nenhum saber está isolado em seu círculo de abrangência, outros conhecimentos deverão ser considerados – num harmonioso acordo com o projeto de texto apresentado na introdução e desenvolvido nos parágrafos de desenvolvimento para, finalmente, culminarem na proposta de intervenção da conclusão.
Sim, é notório que alguns repertórios dialogam com diversas temáticas, tanto que aparecem com frequência em textos exemplares produzidos em provas já aplicadas. Apoiados nesses casos, multiplicam-se – especialmente na internet – os chamados modelos prontos, textos pré-fabricados, nos quais o aluno insere informações do tema “da vez”, apenas substituindo uma ou outra forma sugerida pelo modelo adotado. É uma escolha arriscada, a qual merece um texto só sobre ela, mas que aqui menciono apenas para reconhecer a versatilidade de certos conteúdos.
Dentre esses, destacam-se tópicos de documentos como a Constituição Federal Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de saberes formulados pelas chamadas vozes autorizadas, as quais se debruçam sobre nossa realidade sempre tão carente de análises e estudos. Por isso, é frequente a recorrência a autores como Zygmunt Bauman, Hannah Arendt, Byung-Chul Han, Milton Santos, Gilberto Dimenstein, Djamila Ribeiro, entre outros.
Essas escolhas recorrentes passam a ideia – equivocada – de que existe uma elitização de repertórios, como se uns fossem mais valiosos do que outros. Na verdade, repertório bom é aquele que está intimamente ligado à temática analisada, revelando-se, dessa forma, pertinente e produtivo. É isso que importa.
Assim, algumas citações surpreendem por fugirem à mesmice. Ano passado, por exemplo, muitos alunos optaram por utilizar canções na contextualização temática que abre o texto. Foram citadas, por exemplo, obras de Chico Buarque, Caetano Veloso, Péricles e… Legião Urbana!
Notem: o caminho é um só, mas as possibilidades discursivas são infinitas!